10/04/2015 | Por Fabio Joaquim | Blog
Você provavelmente já ouviu alguma pessoa mais velha da sua família iniciando uma frase com “no meu tempo”, não é mesmo? Pois é. Esse padrão nostálgico tem a ver com o fato de que tudo, tudo mesmo, muda em uma velocidade absurda. Quer um exemplo? Pessoas nascidas nos anos 80 ou antes disso têm lembranças nítidas de como era a vida sem internet, sem redes sociais e, inclusive, sem celular.
A impressão que temos, muitas vezes, é a de que essas modernidades nos deixaram mais aflitos, mais estressados e com menos tempo. Se antes era preciso recorrer às enciclopédias para estudar alguns assuntos, hoje, com uma busca rápida na internet, temos acesso a todo tipo de informação.
Logicamente, todo excesso tem suas consequências, e a informação em excesso, que é o que temos atualmente, acabou contribuindo para o surgimento de novas doenças, síndromes e condições mentais. O transtorno de ansiedade, por exemplo, acabou ganhando novos ramos, e é sobre um deles que vamos falar hoje: a síndrome do pensamento acelerado.
Essa possibilidade de encontrar informações em grandes quantidades a todo o momento acaba por sobrecarregar nosso cérebro. Imagine você, diante da tela de um computador, lendo um texto no Mega Curioso. É bem possível que o navegador que você usa tenha outras abas abertas: Facebook, Twitter, YouTube, Tumblr, Pinterest, SoundCloud e por aí vai.
No Facebook, só para usarmos uma das opções de comunicação e informação do momento, você assiste vídeos, clica em links diversos, vê fotos, curte os status de seus amigos, adiciona pessoas, participa de grupos e páginas, debate alguns assuntos e por aí vai. Para nós, essa alta quantidade de informação já é algo comum, e por isso acabamos nem percebendo que, no final das contas, tudo isso pode mudar a forma como nosso cérebro trabalha.
A síndrome do pensamento acelerado foi descoberta pelo psiquiatra brasileiro Augusto Cury, e é mais comum em pessoas adultas e que trabalham em ambientes que exijam constante atenção. É o caso de médicos, professores, escritores, jornalistas: todos são profissionais que precisam ser bons a todo o momento, às vezes sem muito descanso e em alguns casos tendo que lidar com metas e prazos intimidadores.
Viver com a síndrome do pensamento acelerado significa ter uma série de dificuldades mentais: é difícil se concentrar para ler um livro, é difícil começar e terminar uma tarefa sem interrompê-la inúmeras vezes, é difícil conseguir dormir, inclusive.
Isso acontece porque o córtex cerebral fica sobrecarregado, o que resulta em uma mente de pensamentos inquietos e acelerados. Pessoas com esse tipo de interferência cerebral, digamos assim, tendem a ser também mais estressadas, impacientes e intolerantes.
São pessoas com a constante sensação de que as 24 horas do dia são insuficientes para que todas as tarefas sejam realizadas. Isso, logicamente, acaba prejudicando outras funções cerebrais, e deixam a pessoa com aquela sensação de cansaço mental e, consequentemente, de cansaço físico também, sem disposição. Isso acontece porque a região do cérebro que fica estimulada em excesso – o córtex – acaba usando a energia que deveria ser enviada para o resto do corpo.
Como comentamos no início deste texto, a tecnologia nos oferece um leque muito grande de informações, a todo o momento, de todas as formas possíveis – é cada vez mais comum, por exemplo, que as pessoas usem seus celulares para verificar redes sociais e afins antes mesmo de sair da cama, pela manhã.
Se antes o normal era levantar, ir ao banheiro, escovar os dentes, tomar um banho e fazer café, hoje o celular acaba vindo antes de tudo isso, de modo que, sem nem percebermos, colocamos a tecnologia acima até mesmo de nossas necessidades fisiológicas – isso sem falar em quem leva o celular ou o tablet para o banheiro…
O fato é que essa grande exposição nos coloca diante de um número gigantesco de informações, constantemente, e nosso cérebro até consegue administrar tudo isso, mas outros setores da nossa mente acabam pagando o preço.
É óbvio que ninguém quer ter sua vida prejudicada em função do pensamento acelerado. As dicas para driblar os malefícios da síndrome incluem tentativas de diminuir o ritmo frenético de vida. Que tal recuperar alguns hábitos mais simples, que, de preferência, não envolvam um celular ou um computador?
Vale fazer caminhadas, descobrir um novo hobby que envolva contato humano e que não seja um novo joguinho de celular, aprender a cozinhar ou até mesmo a fazer uma horta vertical para colocar na sacada do seu apartamento, caso você não seja uma pessoa abençoada com um quintal.
Contato com a natureza, de uma maneira geral, é sempre favorável. Vale até mesmo levar seu novo livro favorito para um parque, onde seja possível sentar-se à grama, embaixo de uma árvore. Climas bucólicos assim são mais benéficos do que você pode imaginar.
Dê ao seu cérebro algo lúdico com o que se ocupar. Sabe aquele livro que você vai ler embaixo de uma árvore? Então. Já serve. Agora se você também morre de vontade de aprender a tocar violão ou a desenhar, que tal fazer algumas aulas de uma vez por todas? Esportes também entram nessa categoria. Vale de tudo: de academia a campeonato de queimada com os amigos.
Além disso, é fundamental monitorar suas próprias emoções. Nesse sentido, é sempre bom aprender um pouco sobre inteligência emocional e colocar em prática esse poder de controlar o que se sente – ou, pelo menos, a forma como se reage ao que se sente. Tente controlar suas emoções sempre que possível e evite cobrar demais de si mesmo – e dos outros também!
Uma pessoa com o pensamento acelerado acha praticamente impossível meditar, mas essa é uma atividade que precisa de insistência para dar certo. Se você tentar meditar todo dia, é bem provável que depois de alguns dias acabe conseguindo colocar sua mente em descanso, nem que seja por pouco tempo. Isso já vai deixar seu cérebro respirar mais aliviado um pouquinho.
Aprenda também a ser menos carrancudo. Permita-se dar mais risada, divirta-se mais, encontre os amigos, vá ao teatro, ande de bicicleta, faça coisas novas e divertidas. A vida não precisa ser sempre levada tão a sério e, mais importante ainda: a vida é muito mais do que um status do Facebook ou um grupo do WhatsApp. Controle a maneira como a tecnologia afeta sua vida, e não deixe que o contrário aconteça.
Se mesmo mudando esses hábitos você sentir que está difícil ter concentração, que a qualidade do seu sono está ruim demais e, principalmente, que esses fatores estão prejudicando seu desempenho profissional ou com os estudos, procure ajuda médica e psicológica. Profissionais especializados sempre saberão o que fazer.
Fonte: TecMundo
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