23/11/2014 | Por Fabio Joaquim | Blog
BRASÍLIA – Um souvenir comprado na feirinha de Ipanema e o simples cachorro-quente da esquina já podem ser pagos com cartão de crédito ou débito. Isso porque, cada vez mais, microempresários e empreendedores individuais recorrem ao celular nosso de cada dia para driblar o custo da máquina que faz as operações com cartão. São vendedores de rua, feirantes e até camelôs. Ao todo, 500 mil já adotaram a leitora de cartão acoplada ao smartphone. E estima-se que, até 2018, esse total chegue a cinco milhões. Um mercado que pode crescer ainda mais quando os aplicativos para pagamento pelo smartphone, como o Apple Pay, lançado com o novo iPhone 6, se popularizarem no Brasil.
Esta semana, Alex Marques deve receber a leitora de chip de cartão acoplada ao celular. Em sua banca, numa feira popular de Brasília, ele normalmente fatura cerca de R$ 150 por dia. Mas perde outros R$ 100 por não oferecer aos clientes a possibilidade de pagar com cartão. Quando considera a venda imperdível, dá um jeito: pede ao vizinho uma máquina emprestada, em troco, claro, de uma módica comissão. Algo do qual ele espera se livrar em breve.
— O lucro vai aumentar. Agora, vai ficar para mim a porcentagem que eu pagava para o vizinho. Vai melhorar a venda. Vai melhorar o lucro da loja — diz Marques, que nunca cogitou ter uma máquina tradicional em seu negócio. — A maquininha cobra R$ 120 e taxa. A gente perde muito nisso. Já no celular, é só a taxa normal.
Ou seja, ele pagará um percentual sobre as vendas, que também é cobrado nas máquinas. Em média, essa taxa é de 1,5% no cartão de débito e de 2,7%, no de crédito. A vantagem do smartphone para o pequeno empreendedor é que ele se livra do aluguel que as administradoras de cartão cobram pela máquina, entre R$ 100 e R$ 200. Alex, por exemplo, conseguiu o equipamento para acoplar ao celular gratuitamente, em uma promoção relâmpago da operadora. O aparelho pode ser alugado e até comprado, e, mesmo assim, seu custo é bem menor do que o da máquina tradicional.
’Isso é inclusão financeira na veia’
Para o estabelecimento de Marques, o faturamento está garantido, já que seu equipamento será uma leitora de chip. Não é o caso da barraca ao lado, onde trabalha Alana Pinheiro.
O aparelho instalado no celular da vendedora lê apenas a tarja magnética. Sem a segurança do chip, se houver qualquer problema, a perda é da loja. Alana, porém, não se preocupa com isso e apenas cumpre o protocolo repassado pela patroa: passa o cartão e digita o código de segurança.
— Às vezes, é ruim, porque o cartão não passa e eu tenho de digitar todo o número do cartão, mas normalmente funciona — diz ela.
De olho nesses pequenos empresários, os bancos querem estimular o mundo das microfinanças, para garantir novos clientes. Já o governo vê o recebimento de cartão por pequenos empreendedores como mais um passo para a inclusão e educação financeira.
— Não é apenas uma questão de não precisar mais pedir a máquina do vizinho, mas de passar a ter um comprovante de renda, já que terá como provar que tem recebíveis. Com isso, o empreendedor poderá ter acesso a crédito — explica Raul Moreira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e diretor de Cartões do Banco do Brasil. — Isso é inclusão financeira na veia, de uma parcela da população que provavelmente não é vista pela sociedade. Há pipoqueiros, engraxates e piscineiros que já aceitam cartão.
Enquanto 500 mil já se beneficiam da nova tecnologia, a camelô Maria Josilda Rodrigues continua a vender sombrinhas e guarda-chuvas pela maquininha tradicional. Com seu estoque guardado em um carrinho de compras, que funciona também como mostruário, ela convence os clientes a levarem a mercadoria mesmo em dias de sol. O sonho é juntar dinheiro para comprar um smartphone e migrar para a tecnologia de receber cartão com chip no celular. E poupar R$ 120 mensais.
— Não dá para comprar muito, mas ajuda, né?
Essa procura pelo pagamento com máquinas acopladas no celular surpreendeu o setor bancário e o governo. É uma resposta à orientação do Banco Central de diminuir a circulação de papel moeda na economia para reduzir insegurança e custos dos setor financeiro. Para o empreendedor individual, pode ser o início de uma nova fase.
— O uso de smartphones para o recebimento de pagamentos no comércio e serviços, além de garantir facilidade e praticidade, proporciona a ampliação de mercado por mais esta possibilidade de pagamento por parte do consumidor, em especial o mais jovem — analisa Luiz Barretto, presidente do Sebrae.
Fonte:O Globo
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